Amina, a importância de sentir afeto e segurança
ILHA DE LESBOS (GRÉCIA), 25 de novembro de 2015 (ACNUR/CPR) – Amina Yusufi, 21 anos, refugiada afegã, sai da tenda dos cuidados de saúde do centro de receção e registo de Moria, na Ilha de Lesbos, para chamar pelo paciente seguinte. Uma mãe com o seu bebé avança.
Amina escuta pacientemente a mãe que explica que o bebé teve um desarranjo intestinal há alguns dias atrás e transmite de seguida a informação ao médico voluntário.
Amina Yusufi não é médica nem enfermeira. No centro de Moria são registados diariamente mais de 2.000 refugiados e as quatro línguas que fala, mais a sua língua materna, pastum, são valiosas para a comunicação entre os refugiados, os migrantes, os trabalhadores humanitários e os voluntários que vêm de todo o mundo para ajudar.
“Apenas quero ajudar as pessoas, é isso que estou a fazer agora”, diz Amina. Chegou num barco de passadores no domingo. Estudou economia na Universidade Americana de Cabul e trabalhou como operadora de dados num departamento público. Espera vir a ser um dia uma professora ou “ter uma outra ocupação em que possa ajudar os outros”.
Amina chegou a Lesbos com a sua mãe, o seu pai, dois primos e cinco irmãos mais novos. A família teve de fugir do Afeganistão depois do seu pai constatar que já não estavam em segurança. Ele tinha combatido em Kubduz, uma vila do norte do Afeganistão que veio a cair nas mãos dos rebeldes em setembro passado. O seu pai receava que ele e a família fossem alvo de vingança, caso permanecessem em Cabul.
Mais de 820.000 refugiados chegaram à Europa, por mar, desde 1 de janeiro deste ano. Esse número inclui 135.000 que fizeram a travessia em outubro. Cerca de 57% atravessaram o braço de mar com 10 kms de largura que separa a costa turca de Lesbos. A ilha continua a receber diariamente cerca de 3.300 novos refugiados e outros migrantes.
Os afegãos constituem uma parte crescente (32%) das chegadas a Lesbos. Os sírios são predominantes (56%) e os iraquianos representam 6%.
Amina conta que a sua família chegou de avião à Turquia, há cerca de um mês, tendo feito 4 tentativas para atravessar o Egeu num bote pneumático sobrelotado, com cerca de 45 pessoas a bordo. Só à quarta tentativa conseguiram chegar a Lesbos. Por cada membro da família tiveram que pagar 940 euros.
Amina descreve a viagem como “aterradora”. “Perdemos tudo na travessia – dinheiro, telefones, documentos de identidade… tudo.”, acrescenta.
No centro de registo de Moria, dormiram três noites numa tenda de plástico, no meio de um olival, na periferia do campo, com centenas de outras pessoas. Os dois campos de refugiados, Moria e Kara Tepe, têm capacidade para apenas 2.800 pessoas mas estão a acolher mais de 10.000.
Para ajudar a suportar as noites frias, o ACNUR deu-lhes cobertores e as organizações parceiras distribuíram roupa e alimentos, mas Amina diz: “O afeto que estamos a receber é ainda mais importante e, sobretudo, o facto de nos sentirmos em segurança aqui”.
Para a jovem europeia que relatou a história de Amina, a partir da linha da frente de apoio aos refugiados na UE (Praia de Moria, Lesbos), talvez a importância de “sentir segurança” não seja assim tão valorizado. No fundo, nunca viveu temendo pela sua vida, num clima de permanente intimidação e onde a desafeição começa logo por se ser uma mulher com mais escolaridade. Tudo isto acontece num país que foi dos primeiros do mundo a reconhecer o direito de voto às mulheres (1919 – apenas um ano depois do Reino Unido) e onde nos anos 70 se andava de minissaia. Depois, fim dos anos 70 e durante a década de 80, foram as guerras por procuração das duas superpotências. Com o fim da guerra fria e a retirada das tropas soviéticas em 1989, a guerra entre os mujahidin aumenta de intensidade, culminando no pesadelo do regime talibã, em que, entre outros retrocessos, as mulheres passaram a andar de burca e as meninas foram proibidas de ir à escola. O Afeganistão tornou-se o maior país de origem de refugiados durante muitos anos (só recentemente passou para o 2º lugar com o agravamento da guerra na Síria).
Amina e a família deixaram Lesbos na terça-feira à noite, num ferryboat, rumo a Atenas. O seu destino final é desconhecido.