Retóricas eleitoralistas e refugiados

Retóricas eleitoralistas e refugiados
GENEBRA, 9 de dezembro de 2015 (ACNUR/CPR) – Melissa Fleming, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), num briefing com a imprensa, afirmou que a retórica da campanha eleitoral nos EUA está a pôr em causa um programa que é essencial para a reinstalação1de refugiados sírios e de outras naciona­lidades.
Na passada segunda-feira, o candidato republicano Donald Trump defendeu a interdição de entrada nos EUA de qualquer muçulmano, seja refugiado, imigrante ou mesmo turista. É a reação mais grave no contexto do frenesim da corrida eleitoral norte-americana e do massacre de San Bernardino, na Califórnia, perpetrado por um casal muçulmano no passado dia 2.
“O nosso programa para os refugiados é cego quanto à religião, selecionando as pessoas com mais necessidade de serem reinstaladas”, afirma a porta-voz do ACNUR. Ao abrigo do programa do ACNUR, cerca de 120.000 refugiados são reinstalados globalmente em cada ano, sendo os EUA o principal país de acolhimento.
De acordo com Fleming, o processo de seleção pode demorar cerca de 2 anos e é dada prioridade aos mais vulneráveis, incluindo mulheres chefes de família, crianças que necessitam de tratamento médico especializado e vítimas de tortura.
O Presidente Barack Obama prometeu, em setembro passado, levar para os EUA mais de 10.000 refugiados sírios em fuga devido à guerra civil e às ações do Daesh. Esse número referia-se ao ano fiscal de 2016, já iniciado em 1 de outubro de 2015.
“As autoridades americanas têm trabalhado permanentemente neste programa. Os candidatos a reinstalação são os estrangeiros mais escrutinados e investigados antes de entrarem em território americano. Seria uma vergonha se o processo fosse interrompido neste momento, quando nós realmente precisamos do mundo para ajudar as vítimas do terrorismo e da violência”, afirmou Fleming, acrescentando, “Preocupa-nos que a retórica utilizada na corrida eleitoral ponha em causa um programa de reinstalação tão importante que é destinado às pessoas mais vulneráveis, vítimas de uma guerra que o mundo é incapaz de parar”.
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Os discursos inflamados de Donald Trump têm sido amplamente condenados, inclusive pelos seus pares do Partido Republicano. Barack Obama, os candidatos do Partido Democrata e os principais órgãos de informação norte-americanos também criticaram frontalmente as suas posições carregadas de xenofobia e racismo.
Igualmente, ao nível global, os líderes políticos, opinion-makers e a comunicação social têm, em geral, condenado Donald Trump.
Os novos media digitais de grande audiência, entre os quais Huffington Post e Facebook, tomaram também posição sobre a islamofobia de Trump.

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